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sábado, 20 de março de 2010

Lixo marinho elevou número de mortalidade de tartarugas em 2009


Vidas ameaçadas

A negligência com o lixo tem sido uma das principais causas da elevação do número de mortes de tartarugas marinhas no litoral brasileiro. Somente entre janeiro e agosto deste ano, mais de 44% das tartarugas necropsiadas pela equipe do Projeto Tamar no litoral dos Estados do Ceará, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Santa Catarina morreram por causa da ingestão de lixo. O levantamento mostra que, das 192 tartarugas mortas, 80 tinham objetos em seu trato digestivo (estômago), principalmente plástico.
O levantamento feito pela equipe do Projeto Tamar dá conta de que, no ano passado, das 266 tartarugas necropsiadas, 65 foram encontradas com lixo no aparelho digestivo. Em 2007, 60 das 156 analisadas tinham objetos no estômago. Em 2006 os resultados de necropsias de tartarugas que estavam em reabilitação e acabaram morrendo, ou que foram encontradas mortas em três regionais do Tamar, demonstraram a gravidade do problema.
Em Ubatuba-SP, dos 70 animais necropsiados, em 2006, 20 tinham plástico em seu conteúdo gastrointestinal; no Espírito Santo, de 25 tartarugas, seis tinham plástico. Na Bahia, das 11 tartarugas necropsiadas, sete apresentavam o mesmo problema. Quanto à espécie, 24 eram verde (Chelonia mydas), oito de pente (Eretmochelys imbricata) e uma era cabeçuda (Caretta caretta).
Recentemente, uma televisão do Rio Grande do Sul noticiou que algumas tartarugas verdes tinham morrido depois da ingestão de lixo despejado no mar. Os dados mostram que esse tipo de episódio é recorrente em todo o litoral brasileiro, visto que as tartarugas não distinguem sacos plásticos de seus alimentos preferenciais. As espécies verde e de couro, por exemplo, não distinguem algas ou águas vivas, seus alimentos prediletos, do lixo.


Plástico forma maior parte do lixo marinho
Quando as tartarugas ingerem o lixo, o trato gastrointestinal não tem capacidade de digerir e o que não é alimento fica paralisado, as tartarugas têm a sensação de saciedade e param de se alimentar, explica um dos pesquisadores do Tamar, Gustave Lopez.
Apesar de um estudo realizado pelo Programa Ambiental da ONU (Unep, sigla em inglês) – lançado em 8 de junho deste ano, Dia Mundial dos Oceanos – mostrar que produtos plásticos são responsáveis pela maior parte do lixo marinho, Lopez informa que todo e qualquer lixo é prejudicial às tartarugas. “Elas podem ficar presas em restos de rede, em linhas ou em outros objetos que dificultam a natação e outras funções vitais, como a tomada de ar na superfície, levando o animal a óbito”, informa.
O lixo é uma das principais ameaças ao ecossistema marinho. Há anos as equipes do Projeto Tamar lutam para conscientizar turistas e pescadores de que garrafas, sacos, embalagens de comida, copos e talheres são os objetos que formam a maior parte do lixo encontrado no oceano.
Lopez diz que “pesquisas científicas mundiais comprovam que o lixo pode causar uma série de distúrbios no trato gastrointestinal das tartarugas, o que resulta no acúmulo de gases, no aumento do bolo alimentar ou ainda na baixa imunidade da tartaruga, o que facilita a ação de predadores ou a morte por desnutrição”, afirma.
O estudo da ONU indica que o verão é o período do ano em que se acumula a maior parte do lixo marinho produzido pelos turistas. Atualmente, o lixo produzido pelos turistas, somado ao produzido pela indústria pesqueira e outras atividades econômicas que usam o oceano como ambiente de trabalho, representa 675 toneladas de resíduos sólidos despejados, por hora, no mar. Desse total, 70% são de objetos de plásticos.
De acordo com a responsável pela Coordenação Nacional de Veterinária do Tamar no Espírito Santo, Cecília Baptisttote, no mundo inteiro, a cada um minuto, são descartados um milhão de sacos plásticos. Esse valor corresponde a 1,5 bilhão de sacos plásticos descartados por dia e mais de 500 bilhões por ano.
O Projeto Tamar vem trabalhando na sensibilização dos turistas e das pessoas com relação ao ambiente marinho. Com banners informativos instalados nos centros de visitantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade com dados sobre os problemas causados pelo lixo marinho, o Tamar trabalha na conscientização de turistas.
Segundo Lopez, “o grupo de crianças da comunidade que participa do programa de inclusão social do Projeto Tamar atua em atividades semanais com a temática do lixo. Além disso, os centros de visitantes contam com lixeiras para separação do lixo reciclável e são realizadas, também, palestras nas escolas do entorno da Praia do Forte”.


Comunidade mudou comportamento com ajuda do Tamar
A mudança de comportamento é visível nas comunidades próximas do Projeto Tamar, na Bahia. A implantação do sistema de coleta seletiva na base da Praia do Forte resultou na mudança de comportamento das pessoas diretamente envolvidas nas atividades do Tamar e entre suas famílias e amigos. Lopez assegura que a redução do lixo marinho só ocorrerá se houver esforço coletivo, “portanto, isso só será realidade se houver consciência daquele que frequenta ou usa a praia e o mar como ambiente de trabalho em descartar adequadamente os seus rejeitos, o lixo tende a diminuir”, explica.
Em 30 anos, o Projeto Tamar protegeu mais de sete milhões de tartarugas, mas, apesar de todo o esforço, elas ainda correm risco de extinção, por isso, “todo esforço para a preservação desses animais do ecossistema é válido”, diz Gustave Lopez. Cecília Baptisttote diz que “esse é apenas um dos problemas que ameaçam a vida desses animais”.
Segundo ela, dentre as principais causas de mortalidade de tartarugas marinhas está a pesca incidental, que mata principalmente indivíduos juvenis ou adultos em processo reprodutivo. “Esses últimos representando uma perda muito maior do ponto de vista biológico”, garante ela.
A iluminação artificial também é ameaça porque espanta as fêmeas que chegam às praias para desovar e desorienta os filhotes recém-nascidos, fazendo com que eles sigam para a direção oposta ao mar, onde acabam sendo atropelados ou morrem desidratados. Isso, sem contar a predação natural”, informa Baptisttote.
(21 de janeiro de 2010)
Fonte: EcoAgência

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