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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Os mares estão ficando sem alimento


7/10/2010

Isabel Martínez Pita (EFE)


Uma equipe de cientistas marinhos composta por Daniel Boyce, da Dalhousie University (Canadá), Marlon R. Lewis e Boris Word, realizou a compilação dos dados recolhidos durante um século com o objetivo de conhecer a saúde dos mares.
A iniciativa começou a ser incubada no ano de 1899 através de um simples e original método: o disco Secchi. Este disco do tamanho de um prato de mesa tem pintado um padrão com as cores branco e preto alternadas.
Preso por um cabo, ele é deixado cair dentro do mar e se observa o tempo que transcorre até que a turvação de água impede que ele seja visto.
A profundidade à qual isto acontece é proporcional à quantidade de algas microscópicas presentes que compõem o fitoplâncton.
Desde o ano que começou a ser utilizado este método para determinar a transparência das águas oceânicas e a evolução dos níveis de fitoplâncton, foram realizadas meio milhão de observações em um período de tempo de mais de cem anos.
Esta é a primeira vez que um grupo de cientistas reúne todos os dados obtidos para dar sentido ao que realmente está acontecendo com os mares de nosso planeta.
Segundo as conclusões às quais chegou a equipe científica de Daniel Boyce, o fitoplâncton vem diminuindo 1% a cada ano nos últimos 110 anos e, embora esta quantidade pareça ínfima, na atualidade há 40% menos que em 1950.
O primeiro elo da cadeia trófica
O fitoplâncton é composto por pequenas algas fotossintéticas e são o primeiro elo da cadeia trófica, ou seja a cadeia alimentar, por isso que o nível de sua presença representa o estado de saúde dos mares.
Enrique Pardo, cientista marinho da organização internacional Oceana, explica à EFE que "o fitoplâncton compõe entre 50% e 90% da biomassa no oceano, o que dá a ideia da relevância que pode ter a presença ou ausência destes microorganismos no meio marinho.
É a parte do plâncton que é fotossintética. Seria como a parte vegetal, que é a que tem clorofila. É muito relevante porque segundo os censos da vida marinha corresponde em torno de 95% da respiração dos oceanos, que são o principal motor na captação de CO2 da atmosfera e na produção de oxigênio no meio marinho".
O estudo realizado pela equipe de Boyce mostra a perda que está acontecendo por alterações derivadas das atividades humanas.
Pardo acrescenta que "por serem organismos fotossintéticos eles têm uma forte dependência das condições meteorológicas. Assim, a mudança climática afeta principalmente de duas formas.
Uma é que ao aumentar a temperatura de água se impede a mistura de águas profundas, ricas em nutrientes, com as águas superficiais, que é onde se encontram as maiores concentrações de fitoplâncton, o que atrapalha sua reprodução.
Por outro lado, está o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. O meio marinho capta em torno de 30% do CO2 emitido na atmosfera e absorve 80% do calor atmosférico.
À medida que o CO2 aumenta, o meio marinho o absorve mais. Em princípio, isto pode parecer positivo pois o fitoplâncton requer esse CO2 para realizar a fotossíntese. No entanto, em concentrações altas demais acontecem processos de acidificação.

Acidificação das águas
O processo de acidificação das águas marinhas traz consequências desastrosas para muitas das espécies marinhas, porque as coberturas calcárias dos animais que as requerem necessitam do carbono orgânico.
Segundo Enrique Pardo "se esta acidificação chegasse a um nível mais elevado, estas estruturas calcárias poderiam chegar a se dissolver. O que fica claro é que isso já está repercutindo em uma impossibilidade clara para formar essas estruturas ou para fechar os ciclos de respiração".
O fitoplâncton é a base da cadeia trófica e serve de alimento ao zooplâncton, que compõe a outra parte dos micro-organismos, em muitos casos, formada por ovas de peixes e alimento fundamental das espécies superiores.
"Se há uma queda neste primeiro elo da cadeia, isto repercutirá negativamente em todos os seres superiores", diz o pesquisador.
Segundo o cientista marinho, "este estudo tem uma base sólida e é muito crível. Na medida que vai aumentado a concentração de CO2 na atmosfera de forma exponencial - assim como o aquecimento global, como parece a tendência - pode acontecer uma aceleração neste processo de perda de fitoplâncton e, em consequência, de todas as espécies marinhas, porque sem o fitoplâncton elas não prosperam".
Desde peixes a cetáceos, inclusive qualquer tipo de organismo marinho, podem desaparecer.
Ao se extinguir a vida marinha, destrói-se o pilar principal da estrutura das espécies do mar, que não são independentes das terrestres.
"Este fato terá uma repercussão direta no homem, pois somos consumidores de espécies marinhas e, além disso, afetará o próprio funcionamento do ciclo biológico em nível global", diz o especialista.
"Só se diminuirmos a temperatura da atmosfera e preservando as emissões de CO2 poderíamos evitar esta catástrofe", conclui o cientista marinho.

Fonte: http://verde.br.msn.com/